Aos portadores de câncer avançado, situação ainda tão comum no Brasil, só restavam as grandes amputações, com ingratas cicatrizes residuais e um tórax aplainado. Neste enorme desafio técnico, Brasília foi pioneira: em 1974 já fizemos as primeiras cirurgias do país de esvaziamento da glândula mamária substituindo por silicone, a cirurgia hoje conhecida como “cirurgia da Angelina Jolie”, ou skin sparing, primeiramente no Hospital das Forças Armadas e desenvolvida depois no Hospital Daher. Fizemos no HFA naquela época os primeiros protocolos de cirurgia preventiva do câncer de mama em pacientes de alto risco.
Em 4 de janeiro de 1980, reproduzi aqui a cirurgia que traz a pele do dorso para a parede anterior do tórax, conhecida como técnica de Bostwick. Em 1983, Brasília foi novamente pioneira no país ao reproduzir, pela primeira vez no Brasil, a técnica do americano Hartrampf, que levava tecido do baixo ventre aos moldes de uma abdominoplastia e os fazia chegar à parede anterior do tórax. Demonstramos essa técnica em sete estados brasileiros e em dezenas de simpósios e congressos. Brasília iniciou a disseminação deste fantástico procedimento . Em 1992 apresentamos nossa técnica original dos “retalhos em ilha das mamas”, que publiquei nos Estados Unidos e permitia-nos reconstruir as amputações mamárias parciais nas quadrantectomias. Nós, que só conhecíamos as reconstruções totais, aprendemos a fazer as parciais, hoje usadas em todo o mundo. Dificuldades técnicas superadas, deparo-me ainda com intermináveis filas de mulheres aguardando anos para tratamento. Em certos planos de saúde, cria-se ainda muitas dificuldades para a autorização das cirurgias que, pela grandeza social, deveriam ser estimuladas e ser a bandeira social dos planos de saúde. Esta cidade pioneira, moradia do poder, bem que poderia acordar sem filas e burocracia, diminuindo amputações e sofrimentos. Aí, então, Brasília, que para mim é rosa há 47 anos, ficará definitivamente rosa para todos e para o mundo.