Saiba como o cirurgião plástico pode ajudar a vítima
A professora Rosamary Lemes traz há anos no braço direito as marcas de um acidente doméstico. Quando tinha apenas sete anos, a mãe dela saiu de casa, para levar a irmã ao médico, e ela aproveitou para cozinhar. “Peguei uma panela e a coloquei para esquentar com banha dentro. Após alguns minutos, senti um cheiro forte de queimado e corri para apagar o fogo e tirar a panela do fogão. Mas quando segurei o cabo, ele estava muito quente, e acabei jogando tudo na pia. Foi aí que a gordura que estava dentro respingou no meu braço. Eu sofri uma dor terrível”, relata a professora.
Apesar das dores que sentiu, Rosamary teve sorte, uma vez que os acidentes por queimaduras estão entre as principais causas externas de morte registradas no país, perdendo apenas para os acidentes automobilísticos e homicídios, de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Queimaduras. Os números também estimam que em torno de 1 milhão de pessoas sejam acometidas por algum tipo de queimadura no Brasil a cada ano, dos quais 200 mil são atendidos em serviços de emergência e 40 mil demandam hospitalização.
As queimaduras são lesões da derme que podem danificar os tecidos corporais e acarretar a morte celular. Elas são classificadas de três maneiras:
1º grau: Ocorre uma vermelhidão no local, seguida de inchaço e dor razoável. Não há formação de bolhas e a pele não se desprende. Não há cicatriz.
2º grau: Há destruição maior da epiderme e derme, e a dor é mais forte. Normalmente aparecem bolhas no local e a pele costuma se soltar total ou parcialmente. Esse tipo de queimadura pode deixar cicatrizes e manchas claras ou escuras na pele.
3º grau: É quando ocorre a destruição total de todas as camadas da pele. Ao contrário do que muitos pensam, a dor costuma ser pequena nesses casos, pois a queimadura é tão profunda que acaba danificando as terminações nervosas da pele. Esse tipo de agressão sempre deixa cicatriz. Pode existir a necessidade de tratamento cirúrgico e fisioterápico para retirada de lesões e aderências que afetem a movimentação.
De acordo com o cirurgião plástico e fundador do Hospital Daher, José Carlos Daher, muitas vezes as pessoas acreditam que o profissional tem poderes mágicos e pode retirar a cicatriz de queimadura por meio da cirurgia plástica. “O profissional dificilmente pode resolver uma ampla cicatriz causada por uma queimadura. Ele pode triar uma pequena cicatriz estreita, quando ele tem a possibilidade de tracionar os tecidos vizinhos e fechar, mas não é possível trocar a pele. A única coisa que a cirurgia plástica pode fazer é liberar as retrações para permitir que a pessoa faça uso pleno das suas articulações. Por exemplo, uma queimadura no cotovelo pode impedir o braço de se alongar. A atuação da cirurgia plástica é para permitir que a função volte minimamente ao normal, pois nunca se recupera o aspecto de uma pele normal. Por isso as pessoas têm que ser conscientizadas sobre os riscos, antes de se exporem a uma situação perigosa”, esclarece o especialista.
O cirurgião plástico lembra ainda que muitas pessoas acendem as churrasqueiras com a garrafa de álcool na mão, e que o risco de uma fagulha respingar no plástico é altíssimo. “Já atendi muitas pessoas que se queimaram gravemente ao acender churrasqueiras, por isso eu sempre alerto para que nunca joguem o álcool diretamente da garrafa, pois o plástico vai derreter na mão, e a queimadura será terrível. A maneira correta para evitar o acidente é molhar um pedaço de papel ou de tecido com o líquido inflamável e então jogar no carvão. Nunca podemos fazer um jato contínuo. A prevenção é a forma mais eficaz de evitar o problema”, alerta.
Por não terem plena noção dos perigos, as crianças são as maiores vítimas de queimaduras. Segundo o Ministério da Saúde, a cada ano são registradas 6 mil mortes e mais de 140 mil internações na rede pública de crianças abaixo de 14 anos, vítimas de acidentes domésticos. Entre os tipos de queimaduras mais comuns entre os pequenos, estão as decorrentes de escaldamento, ou seja, do derramamento de líquido fervente sobre eles.
O Dr. Daher também alerta para as queimaduras elétricas, que também são comuns entre as crianças. “Curiosas, elas podem enfiar objetos metálicos nas tomadas ou levar à boca fios ligados na eletricidade. Além do perigo do choque elétrico, que pode levar à parada cardíaca ou morte por asfixia, a corrente elétrica provoca queimaduras no local de entrada e de saída. Assim, a pequena mão de uma criança poderá ter dedos perdidos ou aleijados definitivamente, assim como os pequenos e delicados lábios poderão ser parcialmente destruídos, com importantes deformidades faciais. Alguns países da Europa, inclusive, determinam que as tomadas sejam colocadas a uma altura de mais de um metro, para proteger as crianças, providência que tomei em casa quando meus filhos ainda eram crianças”, diz o especialista.
Para evitar que as crianças se queimem, siga as orientações abaixo:
- não deixe que os pequenos corram na cozinha enquanto estiver cozinhando;
- deixe o cabo da panela virado para o centro do fogão;
- guarde fósforos e isqueiros em um local seguro;
- certifique-se de que o gás tenha válvula de segurança;
- evite que crianças cheguem perto do forno, quando ele estiver sendo usado;
- tome cuidado com a temperatura da água, quando for dar banho em um bebê;
- mantenha as tomadas fechadas, com protetores específicos;
- use fita isolante para fios desencapados;
- deixe aparelhos desligados, quando não estiverem sendo usados;
- mantenha longe do alcance dos pequenos produtos como soda cáustica, pilhas, baterias de relógios e de aparelhos eletrônicos, pois eles possuem conteúdo corrosivo;
- não deixe que eles se exponham de forma excessiva ao sol.
Caso uma pessoa sofra uma queimadura, o indicado é lavar o local, colocar compressas frias para diminuir a dor e o edema. O resfriamento das lesões com água fria é o melhor tratamento de urgência da queimadura. A água alivia a dor, limpa a lesão, impede o aprofundamento das queimaduras e diminui o inchaço.
Caso a queimadura seja mais grave, é recomendado procurar um médico imediatamente, para evitar complicações e garantir o alívio da dor.
1 Comentário. Deixe novo
Meu nenê tevesofreu uma queimadura recente, já está todo cicatrizado, fiz o que o médico disse q eu fizesse, mais percebo que quando toco ele chora e não permite q eu toque. Mais ele corre e brinca o dia todo. Não sei se o que ele sente quando toco é dor ou algum tipo de memória nele, devido ao q passou,trauma.!? Foi uma queimadura de carvão. Ele pisou na brasa… Queimou e foi profundo.